Porque o Facebook não é o problema?

Facebook I dont like

Já são 4 anos desde que saí do Facebook. Muita coisa aconteceu desde então. Eu mudei de país, casei, mudei de opinião (várias vezes), minha filha é agora uma adolescente, mudei de apartamento, briguei com um monte de gente, fiz novos amigos, dos amigos encontrei outros amigos e perdi alguns no caminho, ganhei dinheiro, endividei-me, ajudei e fui ajudado, e por ai vai. Realmente foram 4 anos bem interessantes e tumultuados. Eu não estou certo mas acredito que durante todo este tempo sem o Facebook foram poucas as vezes que eu senti falta. As vezes dava um vontade de contar algo pra todo mundo, ou pelo menos me mostrar lá fora, dizer que estou vivo e saber que alguém senti minha falta. É fácil no Facebook, nós sempre somos bem-vindos por lá. Se não pra que perder tempo?

Batia uma vontade de voltar quando eu não tinha nada melhor pra fazer, algo que acontece com certa frequência, em ciclos. Durante esses 4 anos eu não me entreguei. Não porque tenho uma enorme força de vontade, porem não me entreguei pois sou o mestre em achar coisas inúteis para perder meu tempo.

Eu devo, entretanto, clarificar que os motivos que me levaram a sair do Facebook não foram necessariamente ideológicos, uma rebeldia contra o sistemas de controle ou contra a maioria. A verdade é que a minha namorada de então tinha terminado comigo eu eu não queria ver suas fotos com o novo namorado, em outras palavras, uma enorme dor de cotovelo que precisava ser imediatamente curado. É parecido quando alguém para de fumar e evita sair pra beber, evitar a tentação. Com os motivos clarificados logo outras apareceram para justificar meu ato, motivo menos fúteis, mais maduro que soam melhor que dor de cotovelo. Como qualquer vício há os momentos de recaída onde considerei voltar.

Recentemente houve uma festa que eu não fiquei sabendo a tempo, um evento que só foi divulgado no Facebook. A minha esposa logo disse, “isso que acontece quando se esta fora do meio de comunicação de todos”. Realmente, um bom argumento, assim como perda de aniversários, notícias, eventos e contato com aquele amigo distante. Neste momento de dúvida meu bom amigo Eduardo Miranda escreveu em seu blog um interessante artigo sobre o Facebook, argumentando com fatos porque não devemos usá-lo. Link para o blog aqui.

Fatos são fatos. O Facebook não existe para fazer-nos mais conectados ou incentivar a cooperação e interação entre pessoas. O Facebook existe unicamente pra fazer dinheiro e, especialmente em ferramentas de media social, eles usam traços comportamentais existente em todos nós para tornar-nos viciados. Em seu blog Eduardo esclarece “o modelo facebookiano parece ser infalível, e baseia-se num princípio de que “imitar é a raiz de todo o comportamento”. Ainda, de que as redes sociais” são nossa (seres humanos) natureza”. E dói perceber de que eles não estão errados! As pessoas adoram ver os outros, e adoram serem vistas pelos outros, e para isso constroem uma imagem online de como gostam de serem vistas pelos outros, e se empenham muito em divulgar essa imagem!”

Somos sucessíveis a comportamentos e atitudes inconscientes e que são ao mesmo tempo inteligíveis quando analisados em massa. Sim, nós gostamos de alimentar o ego, de ser visto e admirado, de pertencer. Entretanto não admitimos abertamente, pega mal e parece individualista e egoísta demais. Quando vemos esta mesma atitude em outras pessoas fica mais fácil de identificar, e isso nos envergonha, não é “cool”. Quando vemos tudo que se passa no Facebook, como as pessoas se comportam, atos centristas e egocêntricos direcionados exclusivamente a comparação alheia, a atitude esclarecida é primeiramente de rebeldia e desgosto.

E o pior é que o Facebook usa muitos outros artifícios e tendências para ancorar seus usuários, sempre apelando para nossa preguiçosa atitude que procuramos no conforto e modernidade do mundo de hoje. Além de incentivar a massagem constante do ego, o Facebook transforma o ato essencial e humano de socializar em algo mundano, sem esforço e superficial. Manter amizades é relativamente fácil, somente um clique distante, estamos sempre mas nunca em contato. Alguém me disse uma vez que amizades são como plantas, temos que constantemente observá-las, rega-las e podá-las para que se mantenham saudáveis e as vezes, mesmo com todo os esforço, elas morrem, como todas as coisas neste universo. No Facebook parece que a cada clique as plantas vão se transformando em plástico. Elas se mantêm lindas de ver, mas por dentro são mortas, cópias do que um dia foram e satisfazem o olhar sem tocar a alma.

O fato é que somos todos humanos e muitas tendências e comportamentos que criticamos e rejeitamos nos outros são comportamentos que praticamos, inconscientes, e que somente a alma capaz de refletir pode intervir e corrigir atitudes e pensamentos prejudicais em nós e nos outros. O Facebook não é o problema em si. Nós somos. O Facebook, assim como outro meio social, é somente uma ferramenta que incentiva para benefício próprio estas tendências negativas. Enquanto houver pessoas que vivem suas vidas baseadas em falsas realidades e benefícios supérfluos proporcionados por meios sócias, haverá Facebook e todo o seu sucesso.

Todos nós estamos em busca da felicidade. O problema é que não sabemos o que felicidade significa. Na filosofia budista a felicidade é possível e alcançável somente dentro de nós mesmo. Ela é o resultado de nosso esforço individual de nos transformar e enfrentar com otimismo e esperança nossos problemas e desafios. Através de cada vitória alcançamos um estado mais elevado de satisfação que reflete em nosso ambiente e relações. Qualquer outra felicidade baseado fora de nós mesmo é considerado uma felicidade relativa, fora de nosso controle, uma felicidade frágil e superficial que esta vulnerável a fatores externos e por isso impossível de manter.

Depois de tantos anos fora do Facebook em não me engano em afirmar que sinto falta desta satisfação gratuita em ter uma vida, minuciosamente criada no Facebook, sendo vista e admirada por pessoas, próximas e distantes, e assim alimentar meu ego que parece sempre faminto por afirmação. Ao mesmo tempo, quando penso nesses anos que passaram e tudo que criei, nas amizades e amores que cultivei cara a cara, coração exposto as dores e alegrias, em todas estas pessoas que amei, odiei, fiz as pazes e hoje são plantas que crescem fortes e saudáveis, como tudo isso pode se quer comparar com um “like” no Facebook. Talvez eu poderia estar no Facebook e manter uma relação saudável entre minha vida pessoal e online. Acredito que seja possível, tudo é possível se mantivermos uma atitude reflexiva em nossas vidas. Mas porque correr o risco? Talvez seja melhor usar o tempo para escrever um blog e receber uns “likes” sobre algo que escrevi em vez de uma pose numa foto.

4 thoughts on “Porque o Facebook não é o problema?

  1. Fala Edu, valeu pelo comentário.
    Um ponto interessante que o Roger Grant me enviou por e-mail extraído de um artigo no “Times”. Link abaixo:
    “I read something similar to the thoughts of your friend in an article in the Times magazine. It was so powerful that I kept it and would be happy to send you a copy. It has a lot more to say about the intrusive and, ultimately, socially destructive nature of Facebook.
    Several paragraphs cover the initial investment of Silicon Valley billionaire Peter Thiel of $5000,000. He had studied at Stanford where he became interested in the work of the philosopher Rene Girard. Rene’s big idea was something called ‘mimetic desire’ Basically, he believes, that once our essential needs are met (food and shelter) we look around at what other people are doing or wanting and we copy them. In Thiel’s words, the idea is ‘that imitation is the root of all behaviour’. He went on to say. ‘Social media proved to me more important than it looked because it’s about our natures’.
    We are keen to be seen as we want to be seen and Facebook is the most popular tool humanity has ever had with which to do that.
    As a non Fb user my favourite quote in the article is, ‘The idea is that people want to look at what other people like them are doing, to see their social networks, to compare and boast and show off, to give full rein to every moment of longing and envy- to keep their nose pressed against the sweet-shop window of other’s lives'”

    https://www.thetimes.co.uk/article/the-truth-about-facebook-how-to-win-2bn-friends-and-destroy-civilisation-9fhl5rbs9

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  2. Grande Luther, bons comentários sobre o gigante Facebook! Também estou afastado por enquanto do facebook, só utlilizo o chat por alguns meses já, perdi a senha do facebook ;D Esse é o jeito senão tinha tido umas recaidas já

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  3. Salve meu velho. Achei a opinião bem forte. Da minha parte concordo quando diz é possível sim a relação saudavel… É um programa… quem decide é quem usa. A demais, o texto ta um barato cara. Os textos estão muito bons de ler.

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